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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Me abrace.


 Faz anos que as coisas estão como estão minha vida se é que posso chamar assim está acabada e agora tenho que sobreviver do modo em que estou tudo começou em 15 de setembro de 1975 quando eu estava em um emprego novo, estava trabalhando em uma distribuidora e eu era quem entregava as mercadorias em determinados pontos, pois bem, um cliente havia encomendado uma mercadoria para sua casa porem sua casa era em um endereço estranho, mas como questionar os clientes não garantiria o salário no fim do mês eu fui entregar do mesmo jeito, era em um pequeno sitio que ficava afastado da cidade, bati palmas na frente do grande portão de madeira que já estava consumido por cupins como não havia campainha era o jeito, já estava tarde da noite, como o cliente tratou com a distribuidora, ele disse que tinha uma doença de pele grave e como morava sozinho não poderia atender durante o dia, eu como sou muito chato com doenças já fui esperando que fosse algo contagioso, bem na verdade não deixa de ser, um homem alto e de aparência sombria surgiu na porta da mal acabada casa, era forte e usava um, sobretudo preto o que o deixava ainda mais atormentador, não sabendo como me portar diante dele eu apenas o aguardei se aproximar, seu rosto eu ainda não conseguia definir, pois estava muito mal iluminado, apesar do porte dele ele se apresentou como uma pessoa velha e de má saúde, e a única coisa que disse foi, “tu poderia carregar para eu até a cozinha já que não posso fazer grandes esforços? Se o fizer lhe servirei um pouco de café!”, mesmo estando com certa ânsia do local e com vontade de sair correndo dali eu resolvi pensar na boa apresentação da empresa e garantir uma boa recompensa com o patrão, infelizmente eu deveria ter corrido mesmo, pois assim evitaria este tormento.
      Entramos pelo portão que fazia um barulho muito chato de dobradiças enferrujadas se movendo, e fui à direção da casa com o homem me acompanhando lentamente, a porta já estava aberta então eu fui logo entrando pois levava a sério o ditado “quanto mais rápido mais rápido!”, fui andando com a caixa para a cozinha e observando o local, a casa era enorme e tinha uma decoração macabra com quadros de artes estranhas como criaturas e demônios, chegando à cozinha eu larguei a caixa em cima da mesa e fui logo me virando para a direção da rua, quando me virei o dono estava muito próximo como a um ou dois passos, “e o café tu negará?” disse ele em tom grosseiro, “e..e..eu...”, gaguejei para lhe responder mas de nada adiantou tentar falar, no momento em que ele fintou seus olhos nos meus senti como se meu corpo ficasse pesado, minhas pernas não respondiam os comandos que eu ordenava e ali permaneci parado como um saco de batatas, meu cérebro funcionava mas meu corpo não, “tu será uma bela cria meu jovem, venho ti observando há tempos, sei que não me decepcionará”, disse o velho com um sorriso sádico no rosto, não entendendo nada e também não podendo fazer nada apenas fiquei ali imóvel, cada músculo do meu corpo gritava por ajuda mas apenas observei a aproximação dele, chegou mais próximo e tocou sua mão em meu ombro se apoiando em meu corpo petrificado, pude perceber seus dentes de forma anormal surgindo em sua boca quando ele a aproximou de meu pescoço, sem entender o motivo ele mordeu o mesmo fazendo uma dor surgir, algo insuportável me tomava não sabia explicar o que, o começo era uma dor incrível que foi substituída por um prazer inigualável, algo de harmonioso passava por meu corpo me relaxando e me fazendo esquecer a dor, logo após isso meus olhos pesaram e meu corpo acompanhou fazendo que eu simplesmente caísse, por um bom tempo eu dormi até que novamente a luz tocou meus olhos, estava deitado em uma cama grande e de lençol branco muito bem limpo, o quarto possuía a mesma decoração da casa do velho sendo com quadros estranhos e coisas anormais, antes de abrir os olhos pude ouvir uma única frase que me despertou de meu sono pesado, “acorde meu filho!”.
   Acordei com um mal estar enorme, meu corpo inteiro era tomado por dores intensas que me faziam agonizar sobre a cama, por um segundo eu senti que não havia mais vida em meu corpo e cai atirado sobre o agora desarrumado lençol, “se acalme lhe explicarei tudo meu filho!”, enquanto eu gemia e me contorcia sentindo meus músculos se torcerem em meu corpo o velho que antes possuía uma expressão rude agora expressava algo mais sereno, ele então foi logo dizendo, “sempre estivemos aqui e muitos não acreditam, mas estamos de fato! Somos aqueles nomeados de vampiros e sobrevivemos nas noites das grandes cidades, nossa origem ainda como na nossa vida não sabemos ao certo, mas alguns se dedicam em descobrir, eu sinceramente não me preocupo com isso sabe filho?...”, levantei-me e parti para cima do velho, quando me aproximei já lhe direcionando um soco ele simplesmente sumiu diante de meus olhos, e em minhas costas o maldito estava, “se acalme não há mais volta meu filho...”, “não me chame de filho seu velho maldito!” gritei com fúria, “tu nada poderás fazer a não ser sobreviver nesta vida maravilhosa que ti dei, terás problemas, mas ainda assim com o preço vale à pena a eternidade acredite!”, “quer dizer que agora sou um sugador de sangue de virgens?” disse em tom arrogante, “há há nada disso filho nada dessa história de virgens, apenas sangue, seu único e insubstituível alimento!”, “por que não consigo sentir nada?” perguntei, “tu não sentirás mais frio, nem calor não terás problemas com namoradas, pois não possui mais sentimentos, a única coisa que o motiva agora é tua sede por sangue e as descobertas que fará avançando junto com este mundo louco em que vivemos, não é maravilhoso?”, “sei que o que sinto por minha namorada não mudará por essa besteira, quer saber cansei disso e irei embora adeus velho!”, disse a ele dando as costas, “tu deverias ficar e aprender comigo tudo sobre tua pós vida meu filho, mas deixarei passar uma noite fora para perceber que lhe estou falando a verdade!”.
  Segui para a casa de minha amada, queria muito a ver e contar o estressante dia de trabalho que tive, não sei quantos dias estive fora e chegar falando de vampiros e com uma marca no pescoço para a namorada não parecia uma boa opção, mas eu deveria me explicar de qualquer jeito! Entrei em casa e quando bati o portão à porta de casa se abriu e ela vem correndo em minha direção, “por onde andava guri!?” disse ela já com lágrimas nos olhos, “aconteceu um acidente no meu ultimo trabalho vamos entrar e lhe conto”, no momento em que ela me abraçou eu senti algo estranho mas não sabia dizer o que era e infelizmente estava a ponto de descobrir da pior maneira, fomos para a sala e sentamos no sofá, após contar toda a história ela apenas demonstrou um leve sorriso e disse que apesar de tudo ainda me amava, e que não importava o que eu havia feito ela aceitaria, ela me abraçou e começou a beijar meu pescoço, senti algo borbulhar em meu estomago, sentia fome e era algo incontrolável, pedi para que ela se afastasse e ela perguntou se estava tudo bem, disse que foi besteira e continuei abraçado com ela, grande erro novamente, enquanto nos abraçava eu também a beijei no pescoço, porem junto do beijo vem uma vontade insaciável de fome, e infelizmente não pude conte-la sendo assim junto ao beijo eu a mordi no pescoço, senti que meus dentes penetraram em sua macia pele e ao mesmo tempo senti o doce gosto de seu sangue, isto fez com que meu corpo voltasse à vida e eu me senti mais vivo do que nunca! Ela havia virado seus olhos e tremia dos pés a cabeça enquanto eu saciava a minha fome por seu sangue, sentia que esta fome nunca iria passar e algo me dizia para parar, mas meu corpo apenas continuava a sugar lentamente todo o sangue dela, após alguns minutos percebi que não havia mais resistência e que agora eu estava a segurando, continuei mais um pouco e quando me saciei a larguei e assim seu belo corpo caiu sobre o sofá, percebi o que havia feito quando vi o seu rosto já pálido e sem vida, eu estava desesperado, mas uma tranqüilidade me tomou como se isso fosse feito diariamente, senti remorso, senti prazer, senti dor, senti felicidade, senti tudo os sentimentos possíveis tudo de uma só vez, e também senti que se fosse essa a vida de um tal de vampiro não era para eu isso! E decidi por um fim de uma vez por todas, antes que me deixasse tomar por este instinto e ficasse como aquele velho maldito.
    Juntei seu corpo a meus braços e a coloquei no carro que a mãe dela havia nos dado a uma semana de presente de casamento, apesar de tudo nenhuma gota de sangue sujava o carro afinal havia mais sangue em meus lábios do que no corpo dela, parti logo, pois já eram cinco da manha e queria completar minha decisão, pois se o mito da fraqueza dos vampiros fosse verdade o sol iria me matar e eu me livraria deste tormento, fui para uma praça que havia sobre uma linda colina a alguns quilômetros de casa, foi lá que tive meu primeiro encontro com ela há anos e sei que seria lá que ela iria querer acabar comigo também, olhei no relógio e já marcava 05:45 e o sol estava preste a nascer, retirei seu leve corpo do banco traseiro e me sentei em um banco de madeira a poucos dias pintado de vermelho, e ali permaneci esperando por minha forma de rendição por ter acabado com minha vida e com a dela junto, sim a culpa da minha ter acabado não foi minha mas isso não justificaria então seria melhor assim, ao horizonte percebi que surgiam fagulhas de um novo dia, este seria meu ultimo nascer do sol que veria e também com toda certeza o pior de todos, mas que precisava ser feito, os raios do sol surgiram tocando minha pálida pele e me fazendo gritar de dor, foram poucos segundos até que eu entrasse em combustão e também foram menos segundos ainda para que meu corpo sumisse diante do verde e vivo gramado, de meu corpo apenas restou o pó, após encontrarem o corpo de minha amada e sem justificativa o caso foi apenas arquivado como sem solução, mas há quem sabe do que se trata, e também há muitos assim como eu que buscam uma solução para o tormento que lhes foi dado de presente, felizmente o meu acabou e hoje pela eternidade apenas descansarei. 

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